sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Imbolc, a luz do ano...

O tempo é curvo e a Roda do Ano volta a girar. Do velho nasce o novo e tudo recomeça no cumprimento do eterno devir.


O Imbolc reabre os portais da vida adormecida sob o manto gelado do Inverno. O nome deste festival, cujas raízes mergulham no nosso passado indo-europeu, significa “purificação”. Os Celtas festejavam-no a 1 de Fevereiro em honra de Brighid, deusa da fertilidade e da medicina, protectora dos bardos e dos ferreiros. A cor branca associa-se-lhe lembrando o leite materno e a esperança no reinício de um novo ciclo. Na noite ardem velas que guiam os passos da deusa de volta ao mundo. Os primeiros sinais de vida retornam à terra; as árvores eclodem em botão; os campos vestem-se de verde e as primeiras flores rompem os solos em busca de luz. A deusa é jovem, tal como o ano que transporta no ventre.

Segundo a tradição mitológica mais antiga, Brighid é filha de Daghda e de Morrighan – filha da Vida da Morte – e irmã de Ogma, o deus que ofereceu a escrita sagrada aos homens, o Ogam. À semelhança de Morrighan, Brighid é uma deusa tripla, é sucessivamente virgem, mãe fecunda e velha sábia à medida que percorre a curva do ano, desde as sementeiras até às colheitas. O seu corpo é terra, o seu espírito é fogo, o seu sangue é a água dos rios e dos mares, a sua mente é ar. O conhecimento dos ciclos da vida era essencial para quem dependia quase exclusivamente da agricultura e da pastorícia.

A partir do século V d.C., a imagem da deusa fundiu-se à da padroeira da Irlanda, Santa Brígida, fundadora do mosteiro de Kildare. O fogo perpétuo aí aceso pela santa manteve-se vivo até ao século XIII, altura em que se extinguiu, voltando de imediato a ser ateado. Diz-se que após 19 noites aos cuidados das freiras, as chamas mantiveram-se acesas sem necessitarem de ser alimentadas. O fogo sagrado continuou a arder até à supressão dos mosteiros por Henrique VIII, no século XVI. Em 1993, uma freira devota de Santa Brígida, Mary Minehan, reacendeu a chama no reatar da antiga tradição. Desde então, o fogo purificador de Brighid arde como uma candeia que nos mostra o caminho na caverna escura da altivez humana.
É hora de fazer um balanço do que ficou para trás e de dar as boas-vindas ao novo ciclo que agora se inicia.

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